27 de abr. de 2012

Comer, rezar, amar e finalmente, sacar.


Poucas vezes na vida senti tristeza. Tristeza mesmo, daquelas que aparecem de repente. Ela veio numa sexta a noite. Dia bem ingrato, impróprio eu diria. Fui pra casa dormir. Nada como uma boa noite de sono pra zerar.
Sábado de manhã. Acordo e ela continua ali. Ou melhor, aqui, dentro do meu peito. Engraçado essa coisa da gente sentir uma coisa tão subjetiva no físico. Doía mesmo. 
Eu não costumo sentir tristeza. Muito pelo contrário, sou uma pessoa bem alegre, cheia de graça. Cuca fresca até demais. Gosto de vida boa, de sorrir, de piada, não cultivo sofrimento ou bode. Mas ok, eu tinha que levantar e encarar o bicho que apareceu dentro de mim. 
Levantei, desci as escadas e estava meio friozinho. Cheguei na cozinha, e me deparei com meu marido preparando o café da manhã. Tô fazendo rabanadas, ele disse. E simples assim, numa frase, numa pequena atitude a minha tristeza foi embora.


Passei vários dias pensando sobre o que tinha acontecido. E logo me veio na cabeça um livro que não li, mas vi o filme. Não porque não costumo ler, mas livro com faminha não costuma me agradar sabe. Comer, rezar e amar. Sim, aquele que Julia Roberts fez a protagonista. Aquela loira que ficou milionária contando sua experiência de vida, enfrentando uma fase bosta da vida e superando com um ano sabático cheio de perrengues, massas, meditação e um romance no final. Desculpe se você não viu o filme. É isso que acontece. 
Agora entendi o tal sucesso do roteiro. Nada como um amorzinho, um gesto de carinho, uma comida boa dessas de lamber os beiços e um pouquinho de pensamento positivo (pra mim, rezar é praticamente isso) que a vida fica doce. E a tristeza vai pro saco.

1 de nov. de 2011

sem nenhum sentido. ou fazendo todo sentido.

que sentido tem  vida se vc não é artista
que sentido tem o dia, se eu só sei viver a noite
que sentido tem a raiva, se o que importa é o amor
que sentido faz isso tudo, se eu só sei falar baixinho.

faz um tempo que tive medo
e o medo me engoliu
eu só sei do que não quero
mas o que eu quero mesmo, nunca se viu.

de tempo em tempo bate uma coisa
um nó, uma inspiração
e tudo faz sentido, sentido de sentido algum.

eu só sei que quero ir ali
onde eu nunca consegui chegar
vou andando, caminhando, correndo
vou de braços abertos, sem freio algum
e uma reta vai me guiar.

me breque, me impeça, me solte
porque no frio eu não quero estar
me veja, me pegue, me lamba
me acorde, me chama pra brincar.


20 de jan. de 2011

O dia em que descobri quem sou.


Há poucos meses um amigo querido presenteou meu marido em seu aniversário com um vinil do Coltrane e Duke Ellington. Ficamos olhando para aquele presente, que no início me pareceu um pouco fora de contexto,  e nos perguntamos: “- Tá, e agora? Ouvimos como?” Foi batendo uma curiosidade louca e não havia outra maneira a não ser comprar uma vitrola.

No dia em que chegou a tal vitrola fomos escutar o tal vinil e eis que um sentimento estranho foi invadindo meu estômago, minha alma. Não, eu não estava com fome. Eu fiquei é pasma com a emoção que senti com a sonoridade de um vinil. Gente, o som é vivo. Não tem absolutamente nada a ver com o modernésimo mp3. E me deu uma raiva de não poder carregar a vitrola no carro. E eu que achava essa papo de colecionador de vinil uma bichisse sem tamanho, um atraso de vida de gente louca que não acompanha a evolução dos tempos. Quanta ignorância.

Lembrei que meu pai tinha alguns discos guardados e fui logo dar uma assaltada naquele armário quase nunca visitado. E o cheiro de mofo? Isso é a parte. Foi me dando uns flashbacks da infância, eu só me recordava dos meus discos com trilhas de novelas, dos Trapalhões, Balão Mágico, da Angélica – aquele do Vou de Táxi -, enfim, aquilo que eu escutava nos anos 80, quando eu era uma criança.

De repente começaram a aparecer os discos do meu pai, e aí eu petrifiquei. Vários discos da Blue Note, todos de jazz, Chet Baker, Grapelli, Stevie Wonder, Eric Clapton, Beatles, Milton Nascimento, Gal, Tom Jobim, Chico Buarque e por aí vai (o mais engraçado foi o selinho do Carrefour nas capas). Sério, fiquei arrepiada porque finalmente eu entendi quem eu sou hoje e porquê eu sou o que sou. Sim, eu sabia das minhas influências musicais de casa, mas fazia muito, mas muito tempo mesmo que não “tocava” nessas referências. Elas estavam ali materializadas em bolachas pretas. Foi intenso.

Como se não bastassem aqueles discos, minha mãe apareceu com uma caixa cheia de discos do meu avô Ananias, um pernambucano pé-de-valsa que engomava suas calças e camisas brancas para cair nos bailes todo final de semana. Sem minha avó, é claro. Tenho muito essa lembrança na cabeça.

Os discos do cabo Ananias (ele era da polícia, e dele eu herdei um Rayban originaaaaal armação dourada e lentes verdes incrível!) eram todos de música brasileira e da década de 60 e 70. Ou seja, os primeiros de todo esse povo que eu amo hoje em dia, Chico, Tom, Elis, Milton, Bethânia, MPB4, Sivuca, Jackson do Pandeiro, João Nogueira, Paulinho da Viola, e por aí vai.

Essa vitrola mudou mesmo os meus dias. Toda vez que chego em casa, limpo pelo menos uns dois disco e escuto aquilo como se eu estivesse presente naquele momento da gravação. Tem um show ao vivo do Chet Baker, com uma gravação de My Funny Valentine, que eu nunca tinha ouvido, e essa música me faz sentir coisas.  É de chorar.

Aí vai a dica. As vezes voltar no tempo é enriquecedor. Faz bem pra alma e economiza uns anos de terapia pra quem precisa se encontrar.

1 de abr. de 2010

Ahhhh a Costa da Ligúria...

Ano passado fui convidada pra fazer um show em Zurich, na Suiça. Meu coração quase que não aguenta de tanta felicidade. Simplesmente parecia um sonho. E por incrível que pareça, não era. Depois de meses de negociação e tudo confirmado, lá fui eu e a minha banda pras Oropa.  Óbvio que depois dos shows, aproveitei a viagem pra tirar uns dias de férias com o maridão, mas a dúvida era: pra onde a gente vai?

Eu já conhecia Paris, Londres, Barcelona e Roma e queria ir prum lugar diferente. Mas e pra decidir? Ó dúvida cruel! Depois de quase quebrar a cabeça, montar uns 5 roteiros diferentes, perturbar todas as amigas que tinham viajado recentemente,  cheguei a uma conclusão e decidi ir pra Berlim. Quando estava tudo pronto na minha cabeça fui anunciar a novidade. O que eu ouvi? "Mas férias na cidade? Eu quero ir pra praia…"… Claro, claro, querido… como eu não pensei nisso antes?

Enfim, voltei pra estaca zero e aí decidimos ir pra Itália. Pô, mas só Itália é muito vago, tem tantos lugares incríveis e diferentes que dá pane na hora de escolher a região. Fomos pra Costa da Ligúria, perto de Genova. 


Quando vi as fotos da região fiquei meio avexada, porque eu odeio coisa velha… e aquelas casinhas todas coloridas, juntinhas, despencando nas montanhas me parecia mais uma favela charmosa. E de coisa feia eu já tô de saco cheio… passa na Santo Amaro pra ver que beleza… Quanta ignorância.


Bom, o lugar é um dos mais lindos que já vi.

Pena que não encontrei minha amiga Madonna e seu pupilo Jesus pra dar uma volta no iate deles em Portofino, que fica ao lado da cidade onde estávamos hospedados.


Pesquisamos tudo no site do Ric Freire (o Salvador da Pátria dos viajantes) e outros blogs que davam dicas da região. Optamos por ficar em Santa Margherita Ligure, que fica próximo a Cinque Terri. 


Cinque Terri é lindo, mas a infra não é das melhores e os hotéis são bem mais caros que em Santa Margherita. E ainda dá pra ver tudo em um dia de passeio.


A viagem já começou incrível. Fomos de carro da Suiça até lá. O caminho é espectacular. Vale muito a pena ir de carro. É bem fácil dirigir na Europa, eu estava bem preocupada mas tiramos de letra. Você descobre quando chega na Itália quando o café começa a ficar decente na estrada. É impressionante! 


Dicas: 
1. Não faça esse trajeto durante a noite, porque o que vale é a vista;
2. Depois das 22h não tem uma viva alma nas estradas. Parece que você está num continente deserto. Se der algum pane no seu carro, nem sei… parar e perguntar informação: forget it! Não vai ter ninguém pra socorrer…

Passamos uma semana só curtindo a vida. Nosso hotel tinha uma praia particular! Fala sério… quando vi tudo aquilo eu só conseguia rir… e rir de alegria é bom demais!

Um dia combinamos de fazer um ensaio fotográfico num beco próximo ao hotel. Eu queria usar as fotos pro meu próximo CD, afinal CD com capa feita na Itália é muito chique, né gente? Quando chegamos lá, estava tudo perfeito e tinha até um carrinho lindo pra cenário.


Acabei ainda não usando as fotos, mas valeu pela tarde diferente desviando de carros e ônibus que transitavam sem parar. 

Passou tudo muito rápido, mas  a viagem vai ficar na memória para sempre. Quando é a próxima?

bj, ana

29 de mar. de 2010

E tudo começou assim

Toda vez que dou alguma entrevista para revistas, jornais ou programas de rádio, os jornalistas costumam me perguntar quais foram as minhas influências musicais. Ok. Resolvi abrir o blog revelando meu grande segredo. Só quem sabia disso era meu primo Leonardo, que costumava me chantagear com a informação. Now I'm free! E viva os Menudos! (pra quem não entendeu é só olhar na minha camiseta... quem não se lembra da primeira capa dos Menudos, com pranchas de surf?

Ps 1: Eu amava o Roy.

Ps 2: Meu último CD não devia chamar Mil Rosas, e sim Mil Hortênsias.

Ps 3: Nesse dia eu estava indo ao show deles no estádio do Aramaçãn em Santo André. Choveu muito, e meu pai ficou horas comigo nos ombros debaixo de chuva. Eles atrasaram umas 5 horas, porque naquela época eles marcavam uns 10 shows no mesmo dia... eles chegaram de helicóptero. Eu me lembro. Parecia que o Papai Noel estava chegando. Muita emoção. Desse dia em diante eu decidi que nunca mais iria ver shows muvucados.... mas aí tem outra história... (no show do Bon Jovi - ai falei) fica pros próximos posts.

Bjs, anap